[Palavras: palhaço –
bosque – livro – rapto]
Nunca compreendera, porque é que aquele monte de folhas teria alguma
importância na vida de alguém… uma coisa tão simples e banal, por quem todos
lutam.
Já aquele sítio, ninguém o procurava, e eram tão parecidos numa coisa, em
ambos começa o início, exatamente da mesma forma.
Talvez aquele local apenas precisasse de um palhaço, para que todos
pudessem sentir-se confortáveis no seu natural mundo, que para mim era um
aglomerado de bonecos disfarçados de gente grande e moralmente correta.
Possivelmente, seria esta a razão por que não se sentiam bem no bosque,
pois apesar de ser escuro como as suas roupas, não combinava com as suas
personalidades.
Contudo, essa razão tão plausível, viria a ser complementada com uma outra,
o maldito livro de páginas vazias. Aquele livro de páginas brancas e vazias,
representava o começo de tudo, o que alguém pretende para poder preencher com a
sua história.
Também o bosque para mim significava o começo de tudo… escuro onde nenhum
erro se vê. Ainda assim, ninguém lá queria iniciar a sua história, agora
compreendo porquê, nenhum palhaço precisa de um passado negro, mas sim de um
claro começo.
Mas era lá que eu me sentia bem, e não com um livro branco por escrever,
onde poderia manchar uma página e no meu escuro não se veem as imperfeições.
Assim, fiz o rapto de mim próprio e transportei toda a minha mente e o meu
espírito para um lugar onde não quero, nem me deixo sair de lá: o meu bosque.
Leandra Freitas