quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

[Palavras: palhaço – bosque – livro – rapto]

Nunca compreendera, porque é que aquele monte de folhas teria alguma importância na vida de alguém… uma coisa tão simples e banal, por quem todos lutam.
Já aquele sítio, ninguém o procurava, e eram tão parecidos numa coisa, em ambos começa o início, exatamente da mesma forma.
Talvez aquele local apenas precisasse de um palhaço, para que todos pudessem sentir-se confortáveis no seu natural mundo, que para mim era um aglomerado de bonecos disfarçados de gente grande e moralmente correta.
Possivelmente, seria esta a razão por que não se sentiam bem no bosque, pois apesar de ser escuro como as suas roupas, não combinava com as suas personalidades.
Contudo, essa razão tão plausível, viria a ser complementada com uma outra, o maldito livro de páginas vazias. Aquele livro de páginas brancas e vazias, representava o começo de tudo, o que alguém pretende para poder preencher com a sua história.
Também o bosque para mim significava o começo de tudo… escuro onde nenhum erro se vê. Ainda assim, ninguém lá queria iniciar a sua história, agora compreendo porquê, nenhum palhaço precisa de um passado negro, mas sim de um claro começo.
Mas era lá que eu me sentia bem, e não com um livro branco por escrever, onde poderia manchar uma página e no meu escuro não se veem as imperfeições.
Assim, fiz o rapto de mim próprio e transportei toda a minha mente e o meu espírito para um lugar onde não quero, nem me deixo sair de lá: o meu bosque.

Leandra Freitas
Quarto desafio: um texto a partir do sorteio de 4 palavras (uma personagem, um local, um objeto e uma ação).

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Ninguém


Se assim fosse, seria perfeito. Um lugar onde o sol brilha durante o dia, acompanhado pelo som dos pássaros que assobiam docemente por entre os ramos fortes. Um lugar onde os dias são quentes e as noites mais frescas. Um lugar onde a lua brilha, acompanhada por milhões de sóis a milhões de anos luz. Um lugar… apenas nós os dois sentados à beira-mar, a conversar durante horas e horas, onde o nosso amor cresce, parecendo não ter fim.
Mas não. O sol que deveria estar a brilhar no céu, mal se vê devido a tantas nuvens negras que choram e gritam mais do que eu. A noite que deveria ser fresca e iluminada pela lua está mais escura do que nunca, numa combinação perfeita entre nevoeiro e iluminação fraca e intermitente, devido ao maldito candeeiro do outro lado da rua. Nós? Não existe “nós”. Existe um “eu” e um “tu” onde ódio e rancor são projetados das nossas bocas como flechas, lançadas contra os nossos corações… flechas que nos perfuram de um lado ao outro, tirando-nos tudo o que existe de bom.
            Quem me dera que não tivesse de ser assim… mas sinto que aquele fundo negro, onde estou prestes a mergulhar, será a única possível solução. Mas até esta ideia que me ocorre já deve ter ocorrido a alguém… Era isso que queria. Era isso que queria ser, ALGUÉM. Mas alguém não posso ser, porque alguém nunca fui. Sou eu. Apenas eu. Ninguém.

Valter Ferreira

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Se há coisa que eu não largo é o meu relógio. Recebi-o como prenda de natal há um ano atrás. Não é digital, porque eu prefiro assim, acho-os muito mais femininos e glamorosos com os ponteiros. Quase que posso dizer que é o meu acessório favorito.
Quando me esqueço dele, quase que deliro! As horas orientam-me e não o ter é uma sensação estranha, se é que me entendem.
O branco, com o tempo, começa a desvanecer, e nasce uma nova cor.
Não há muito mais para falar sobre ele: é um objeto. Nem sentimentos nem vida possui. A sua função sempre foi uma única: indicar as horas e, consequentemente, os seus movimentos giratórios.


Beatriz Neves