quarta-feira, 1 de abril de 2015

[Palavras: padeiro - planeta - guilhotina - execução]

Sempre, todos os dias e à mesma hora, entrevia pela janela da cozinha o padeiro.
De cabelo curto e grisalho, farto de levar ao forno as tão desejadas delícias da padaria, o Sr. José abordava-me sempre, fazendo-me um gesto de bom dia. Tinha um ar misterioso que lhe conferia um ar mais jovem do que a sua aparência.
Frequentemente, inúmeras pessoas deslocavam-se à padaria do José. No entanto, esta assumia algumas particularidades que deixavam os clientes insatisfeitos. A mais discutida entre todos era o encerramento da padaria muito cedo, ou melhor dizendo, mais cedo do que as outras.
Todavia, esta situação admitia uma razão… antes mesmo de ser aceitável era, antes de mais, alheia comparativamente a todas as outras que ouvira até então.
Certo dia, dirigi-me à padaria do Sr. José e, como era de esperar, o estabelecimento já se encontrava fechado. Reparei que a porta das traseiras, que dava acesso ao local onde estavam os fornos, estava entreaberta.
Previsivelmente, José encontrava-se a fazer pão. Porém, os pães que chegavam do forno demonstravam uma forma irregular e, no centro dos pães, afigurava-se um rosto de um ser estranho. Não reconheci imediatamente os rostos, mas posteriormente conclui que, talvez, fossem extraterrestres ou outro tipo de espécies vindos de outro planeta. Tais inferências deixaram-me apreensiva.
O Sr. José já se encontrava em pânico, trémulo do medo que lhe consumia a alma e a mente. Parou de caminhar à volta da mesa, agarrou-me por um braço, puxando-me e sentando-me numa cadeira.
Compreendi o estado de José, após este me confessar o seguinte:
“Menina, minha querida menina, peço-te ou imploro-te, que o que te digo fique apenas entre nós. Atordoada pelas imensas ideias que me ocorriam à mente, acenei a cabeça.
Estes pães que observas em cima dos tabuleiros destinam-se a uns amigos que me fornecem ingredientes. Em troca, apenas lhes ofereço alguns.
Normalmente, aterram na pista de São Minimenos por volta das 17 horas e é por isto que todos os dias fecho a minha padaria mais cedo.”
Fiquei perturbada, mas restava-me apenas prometer-lhe que o seu segredo nunca iria ser revelado. Contudo, não foi necessário revelá-lo, pois outra pessoa, mais cruel e infame, descobrira o que o padeiro temia.
Por conseguinte, semanas depois, o Sr. José tinha desaparecido e os extraterrestres eram capturados e julgados na guilhotina. Publicamente, na Praça de São Jerónimos, as cabeças destes seres rolavam à vez, onde a população ria, vendo o espetáculo mais desejado do mês.
Minutos mais tarde, deparo-me a observar fixamente a caixa de cereais que retratava bastante bem os rostos dos tais seres estranhos. A mão já quase dormente descaí-me com o peso da colher. Voltava ao meu mundo real…

Adriana

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