quinta-feira, 30 de abril de 2015

Tu e ela. Tu e nada. Sei que nunca antes tinhas experimentado essa sensação. Alguém, talvez ninguém, tinha acabado de estabelecer uma conexão contigo. Alguém, que nem sequer sabia da tua existência, já te tinha marcado. E sabes o que é mais engraçado? Nem tu sabes como. Dizem que na vida, por vezes, temos a sorte de nos cruzar com almas gémeas, pessoas que, logo ali, no primeiro segundo, são capazes de se ligar a ti. Pessoas com as quais se cria um elo mágico, indescritível. Queres saber o que eu acho? Acho que tu tiveste essa sorte. Tu e ela.
Como poderia um sentimento assim terminar sem mais nada? Claro que não podia, claro que estavas destinado a cruzar-te com ela minutos mais tarde, naquela rua, naquela quente tarde de julho. Não duvido de que foi também o destino que se encarregou de vos juntar e permitiu o casamento com que há tanto sonhavas. Entretanto passaram dez anos. E ontem, sim, ainda ontem, algo te fez voltar a pegar naquela velha foto. Aquele pedaço amarelado de cartolina que com tanto amor tens mantido contigo. Tanta coisa mudou. Ela própria mudou. Mudou contigo tal como tu mudaste com ela. Sabes, eu já tenho reparado em como te perdes tanta vez a olhar para essa imagem. E noto que, de cada vez que a observas, o teu olhar é distinto porque eu sinto, e tu sentes, que sempre que a vês estás a descobrir algo de novo. Só que ontem foi diferente. Ontem reparei que, ao olhares para ela, te reencontraste com a rapariga de sorriso inocente e estático, parada a olhar para ti. Ontem vi em ti que, dez anos mais tarde, o mundo voltou a desfocar, as pessoas à volta deixaram de se mover e nada mais se atreveu sequer a mexer, não fosse esse momento ser arruinado. Finalmente encontraste a rapariga da foto. Finalmente, encontraste aquilo que durante dez anos deixaste que se fosse perdendo. Vi a mágoa no teu olhar e percebi o quanto a amavas. Percebi a desilusão que sentias por teres permitido que a magia não continuasse. Tive vontade de te abraçar e dizer-te que a culpa não foi só tua, também foi dela. Quis dizer-te que nada disso era importante, que o que realmente interessa não são as memórias do passado mas as oportunidades do futuro. Quis correr para ti e fazer-te perceber que juntos, tu e ela, iriam voltar a mostrar ao mundo a sorte que tinham em ter encontrado, cada um, a sua alma gémea. Juntos, tu e eu, poderíamos provar isso. Mas o tempo não espera e o ontem, que tinha os seus dez anos, deu lugar ao hoje com os seus vinte. O relógio não esperou, o mundo continuou a rodar, as pessoas a andar e ninguém mais se lembrou de nós nem daquela rua… ninguém mais quis saber do nosso momento e ninguém mais se importou que ele fosse arruinado.
Eu ainda continuo cá. Infelizmente sou só eu… E tu? Tu estás lá e não cá, lá com aquele pedaço de cartão, com aquela imagem que, há vinte anos, se tornou parte de ti. Tu e ela. Tu e nada.

Inês Catarina, 12ºC

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